A cada ano vemos a intensificação dos problemas de mobilidade na Grande Vitória, principalmente com os excessivos congestionamentos nos eixos de ligação dos quatro municípios mais populosos.
Uma das causas do problema é de âmbito nacional e se dá pelo crescimento da frota de automóveis, proporcionado, entre outros, pelos recorrentes incentivos do governo federal ao segmento - cedendo às pressões das montadoras, em uma atitude diametralmente oposta às necessidades das regiões metropolitanas, carentes, de fato, de investimentos no transporte coletivo e em espaços de qualidade para pedestres e ciclistas.
Outra causa do problema, de solução local, são as características dos planos diretores urbanos dos municípios, aprovados sem visão urbanisticamente moderna para a mobilidade urbana, e muito menos análise integrada da região metropolitana.
Vimos, nos últimos 10 anos, um intenso desenvolvimento imobiliário na Grande Vitória, principalmente nos municípios da Serra e Vila Velha. Ambos vêm apresentando maior produção imobiliária que a capital nos últimos cinco anos, conforme dados do último Censo Imobiliário realizado pelo Sinduscon-ES, em maio deste ano.
O censo apontou ainda que 50% da produção imobiliária se dão em Vila Velha, com 15.431 unidades. A Serra, que praticamente não contava com empreendimentos imobiliários no início da última década, atingiu um pico de 13 mil unidades em produção entre 2010 e 2011, e atualmente apresenta 6.625 unidades.
Vitória conta com 4.343 unidades em construção, 72% abaixo do município canela-verde, 55% abaixo do pico histórico do próprio município e no mesmo patamar do início da pesquisa, há mais de 10 anos. Aqui cabe um parêntese: até 2009, Vitória liderava a produção.
Outra constatação: os preços de imóveis novos na capital são cerca de 20% superiores aos de Vila Velha e de 30% aos da Serra. Por outro lado, não se viu um acréscimo de oferta de emprego nessas duas cidades com a mesma intensidade que o acréscimo de moradia, mantendo-se Vitória ainda como o principal destino de deslocamento para trabalho, o que é agravado pelo avanço do número de empreendimentos comerciais e de sedes de entes públicos, principalmente na Enseada do Suá. A consequência disto é que, em nível municipal, os desvios da quantidade de imóveis em cada classe de uso vão se tornando cada vez mais graves.
Para piorar, algumas prefeituras exigem quantidade de vagas exagerada nos empreendimentos em aprovação, acima mesmo da quantidade definida pelos planos diretores, o que gera insegurança para as empresas, principalmente em Vitória, e que denota uma política totalmente favorecedora ao automóvel, com detrimento aos outros modais, e observamos congestionamentos cada vez mais absurdos.
É comum que capitais sejam os municípios com mais oferta de trabalho nos estados, o que é intensificado por sediar a maior parte dos entes de âmbito estadual e federal e aeroportos, que por sua vez, atraem outras atividades esconômicas.
Sendo assim, para fazer frente a uma das causas dos problemas, a única de âmbito local, conforme exposto, cabe se pensar em um planejamento metropolitano para equilibrar melhor essas forças econômicas, geradoras de deslocamentos, o que deve ser organizado
junto às prefeituras pelo Governo do Estado - que por enquanto só age para tentar minimizar as consequências do problema através do planejamento de projetos de infraestrutura viária e mobilidade, que demandam recursos estratosféricos. Ou seja, realizar também uma análise integrada dos planos diretores urbanos. E assim proporcionar
rapidamente a base para mitigação em médio prazo da situação, enquanto as soluções de infraestrutura e transporte coletivo, muito mais lentas de serem implementadas, não ficam prontas.
Eduardo Borges é diretor do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-ES)
