As incertezas no front externo também continuam como objeto de preocupação dos diretores do Banco Central (BC). A sinalização de que os Estados Unidos devem aumentar os juros, assim que Donald Trump assumir em janeiro, "indica o possível fim do interregno benigno para economias emergentes" como o Brasil, prossegue a nota, alertando que isso é outro fator que pode "dificultar" a queda da inflação.
A divergência dos analistas financeiros agora é sobre a postura que o BC adotará, diante da letargia prolongada na economia brasileira. Uma corrente defende que será mantida a cautela e que os juros cairão gradualmente. Entretanto, cresce a corrente de que há espaço para um corte mais profundo, de 0,5 ponto percentual.
O avanço do ajuste fiscal no Congresso Nacional, com a aprovação em primeiro turno, no Senado, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n° 55, que limita o crescimento dos gastos, favoreceu a decisão da autoridade monetária. "Os passos no processo de aprovação das reformas fiscais têm sido positivos até o momento", diz a nota do Copom.
A inflexão dos preços também abriu espaço para a segunda redução seguida da Selic no ano. "A inflação tem se mostrado mais favorável no curto prazo, o que pode sinalizar menor persistência no processo inflacionário", diz o BC. A aposta da maioria dos analistas do mercado, de que a Selic seria reduzida, refletiu-se nos juros futuros, que terminaram o dia em baixa.
Perspectivas
"À medida que as incertezas se dissipem, o ritmo de corte de juros deve se intensificar ao longo de 2017, até a Selic atingir 10% ao ano", projeta o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita. A economia fraca, a estabilização recente da taxa de câmbio e o fim do realinhamento dos preços administrados têm levado a uma tendência de queda da inflação e das expectativas sobre o comportamento dos preços.
Assim como o Copom, Mesquita destaca as dúvidas em relação à política econômica americana, com a possibilidade de aumento dos juros lá. Isso pode "levar o BC a adotar uma maior cautela no ritmo de corte de juros no curto prazo", comentou Mesquita.
A decisão do Copom era esperada pelo economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira. Ele acredita que os diretores do BC podem ter debatido a possibilidade de redução da Selic em 0,5 ponto percentual, por conta da fraqueza da atividade econômica, mas mantiveram a cautela diante do cenário global incerto.
"A eventual aceleração do ritmo do corte dos juros nos parece o cenário mais provável para a primeira decisão em 2017", destacou Oliveira, que prevê Selic a 9,25% ao ano, no primeiro trimestre de 2018.