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Presidente da CBIC avalia COP 30: "A construção sabe o que fazer, precisamos transformar regulação em conhecimento e oportunidade"
 
19.11.2025   Agência CBIC
Notícia - Imprensa
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, participou da COP 30, em Belém, junto da Comissão de Meio Ambiente (CMA) da entidade. Em entrevista ao CBIC Hoje, ele avalia que o Brasil entregou um evento estruturado e à altura do desafio climático global.

Ao comentar percepções, debates e a atuação do setor da construção, Correia destaca que o mundo já sabe tecnicamente o que precisa ser feito, o obstáculo agora é planejar e financiar ações de longo prazo.

Qual foi sua impressão da COP 30 realizada no Brasil?

Eu já tinha participado da COP 29, então tinha uma referência. Depois de tanto falarem das dificuldades, encontrei uma Belém bem preparada. A cidade estava bonita, com obras novas de urbanização que ficam de legado. O único ponto fora da expectativa foi o custo da estadia, muito acima do previsto. E teve o calor, realmente muito forte, mas acabou virando parte do momento, porque as pessoas brincavam que estavam “sentindo na pele” o aquecimento global.

E sobre os debates da COP? Que reflexão você traz?

A parte governamental, financiamento climático, metas, CNDCs, não é onde participamos diretamente do debate, mas acompanhamos as conversas. É um evento gigantesco: 193 países precisam decidir por consenso. É o maior exercício democrático do mundo. Então, imagina a dificuldade de construir esse trabalho longevo e de consolidar tudo.

Depois de dez anos do Acordo de Paris, agora se chega a um documento de implementação, destinar recursos, determinar prazos e fazer um planejamento planetário. Entender como lidar com a sustentabilidade e tudo aquilo que ela impacta.

Como você enxerga as perspectivas de futuro global depois dessa COP 30?

Olha, todas as questões climáticas conectadas por um objetivo central, que é a descarbonização para impedir que a temperatura ultrapasse limites críticos. A gente já está falando em 2°C. A sensação é de que a batalha pelo 1,5°C está praticamente perdida, e isso exige uma transição energética real: transformar a matriz energética do planeta, diminuir a dependência do petróleo e reduzir drasticamente as emissões.

Outra grande fonte de carbono são as queimadas e o desmatamento. Então, além da energia, é preciso dar condições aos países mais pobres para investir em fontes renováveis — eólica, solar — e também na recuperação de áreas degradadas. Onde houve desmatamento, que haja reflorestamento.

Eu vejo esta COP como mais um degrau importante. As COPs são isso: tijolinhos, árvores plantadas uma a uma. O desafio é manter a continuidade, e isso exige muito do país que recebe: organizar, debater e entregar algum resultado. E eu acho que o Brasil vai entregar. E o resultado não é para o Brasil, é para o mundo. O Brasil acertou em fazer a COP aqui. Trouxe os olhos do mundo para o país, trouxe gente que conheceu o Brasil, conheceu a floresta. É sempre uma honra receber um evento dessa magnitude.

E o setor da construção vem se preparando para essa agenda há bastante tempo. Quando eu digo bastante tempo, estou falando de pelo menos dez anos de atuação da CBIC. Desde a consolidação da pauta da CMA, lá atrás em 2014, com gestão de resíduos e outras agendas que a CBIC começou a levar para as empresas, até chegar ao assento de altíssimo nível que temos hoje na própria SB COp, num dos grupos de trabalho de cidades resilientes.

A construção chegou à COP com uma trajetória consolidada. O que o setor levou para Belém?

Ao longo dos últimos anos, a CBIC participou de todas as cadeiras possíveis nos debates governamentais sobre regulamentações ligadas à eficiência energética, descarbonização, plano clima e taxonomia. São quatro grandes frentes. E nós nos colocamos dentro das discussões do governo brasileiro para ajudar a definir as NDCs dos setores. A taxonomia e o plano clima são ferramentas que vão orientar a implementação das medidas de descarbonização e de manutenção da temperatura global sob controle, e o Brasil faz parte disso.

No mundo, a construção responde por cerca de 33% a 37% da pegada de carbono. No Brasil é muito menor, 5% a 10%, segundo estudos não oficializados, porque nossa matriz energética é muito limpa. Mas isso não significa que não temos nada a fazer. A engenharia sempre pode otimizar processos.

Também coordenamos, a convite da CNI, o grupo de Cidades Sustentáveis e Resilientes da SB COP. Foi um trabalho global, com players de mobilidade, tecnologia, energia, cidades. De 48 cases, seis foram selecionados, e um deles é o Futuro da Minha Cidade, da CBIC.

Qual foi o principal aprendizado do setor sobre essas questões climáticas?

Nós não temos mais problemas técnicos para resolver o tema climático em termos de adaptação e mitigação. Zero problema. O que precisa ser feito, a engenharia e a construção sabem. Onde está o desafio? No planejamento e na estruturação de políticas de médio e longo prazo pelas próprias cidades. E, claro, no financiamento.

E sobre financiamento climático, como você enxerga o cenário?

Financiamento é o ponto sensível. O TFF está sendo implementado, com aportes prometidos, mas nada consolidado ainda. E esses recursos não são doações; são investimentos. Precisam voltar. O Brasil e o mundo vão ter que aprender a trabalhar com essa equação. Sem projeto de longo prazo, não há financiamento sustentável.

A CBIC vem atraindo parceiros como GBC, Saint Goban e outros. Como você vê essas alianças daqui para frente?

Movimentamos 97 atividades da cadeia da construção. É um ecossistema enorme. Estar integrado com players de referência facilita muito. Associativismo é o coração da CBIC. Trabalhar junto acelera resultados e garante alinhamento na agenda da sustentabilidade.

O que vem agora para o setor após a COP 30? Qual será a prioridade da CBIC?

O que a gente precisa agora é preparar as empresas para aquilo que já está regulado, seja na taxonomia, que pode virar uma oportunidade de financiamentos mais baratos para quem atender os requisitos; seja no Procel Edifica, que é o selo de eficiência energética aplicado às habitações e que também precisamos implementar.

Tem ainda a questão do plano clima, das mitigações, e a necessidade de canalizar os financiamentos que existem no Fundo Clima e que hoje não chegam às empresas por falta de conhecimento.

Então, eu acho que temos muito a agregar ao transformar toda essa regulação em conhecimento e oportunidade para as empresas.

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